No Teatro: A Tartaruga de Darwin


Ir ao teatro no meio da semana está se tornando um bom hábito do carioca, o que garante o sucesso de alguns espetáculos, como A Tartaruga de Darwin.

Encerrando nesta quarta, dia 31, a temporada no Teatro dos 4, a peça conta a história da tartaruga do cientista Charles Darwin. Ou será que é a tartaruga de Charles Darwin quem nos conta suas histórias?

A peça foi escolhida por Cristina Pereira para celebrar seus 40 anos de carreira, e ela é o grande brilho da montagem, que conta ainda com Paulo Betti {também diretor}, Vera Farjado, e Rafael Ponzi.

A diversão se mistura ao aprendizado, e à reflexão sobre a desumanidade do próprio ser humano.

Lindo espetáculo, que diverte e emociona.

Serviço:
Teatro dos Quatro
Rua Marquês de São Vicente 52, 2º andar, Shopping da Gávea.
Telefone: {21} 2274-9895.
Última apresentação nesta quarta, dia 31, às 21h.
Classificação etária: 12 anos.

foto: Guga Melgar.

Até a próxima,

 Lathife Cordeiro
@VisaoArte

Dica de Dança: Dulcinea's Lament

A plateia carioca tem a oportunidade de curtir nesses dias 30 e 31 de março o espetáculo de dança Dulcinea's Lament, da companhia canadense Dulcinea Langfelder & Co.

O espetáculo, que veio ao Brasil se apresentar no Festival de Teatro de Curitiba e se apresentou também em São Paulo, traz ao Rio uma remontagem de Dom Quixote, em uma viagem através das emoções humanas.

No palco, Dulcinea Langfelder, que também escreveu o roteiro, interpreta Dulcinea del Toboso, a musa de Cervantes. A direção fica a cargo de Alice Ronfard. Emocionada com o projeto, ela diz: “Eu sempre fui apaixonada pelos temas com os quais Dulcinea se envolve. Foi importante para mim trabalhar com ela especificamente nessa criação".

Porém, o melhor resumo do espetáculo vem da própria Dulcinea: "Eu quero que a plateia saia do teatro mais curiosa sobre o mundo e sobre os motivos de nos comportarmos como nos comportamos. Eu quero que ela se sinta mais autoconfiante e menos vulnerável ao 'pensamento geral'." Ela continua: "Espero que as pessoas saiam prontas para rir das fraquezas humanas, mais do que se preocupar com elas!"

Todas essas emoções os cariocas podem sentir no Sesc Ginástico, Centro do Rio, apenas nessa terça e quarta. Um show para os olhos e o coração.

Serviço:
Dias 30 e 31 de março (terça e quarta) às 19h.
Local: Sesc Ginástico (Av. Graça Aranha , 187 – Centro. Tel.: 2279-4027).
Bilheteria: de terça a domingo, das 13h às 20h.
Ingressos: R$ 20,00, R$ 10,00 (meia) e R$ 5,00 (comerciário).
Duração: 90 minutos.
Classificação indicativa: 12 anos.
Lathife Cordeiro
@VisaoArte

No Teatro: Macbeth

Uma peça de Shakespeare já traz em si uma enorme expectativa. Se é dirigida por Aderbal Freire-Filho, isso aumenta. Se protagonizada por Daniel Dantas e Renata Sorrah, multiplica-se. Mas toda essa expectativa parece pequena diante da grandiosidade que vemos em cena na montagem atual de Macbeth.

A atmosfera é diferente. A começar pelo local: o Espaço Tom Jobim, localizado dentro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O teatro tem uma disposição de palco e cadeiras incomum, que permite que os atores fiquem no centro, entre duas grandes "redes" de pessoas. Sem a tradicional cortina vermelha separando plateia de atores, o público se sente parte do que acontece ali, vendo os atores mudarem de personagens com apenas uma troca de capa, e os outros que saíram de cena assistindo: isso nos cantos da área de encenação, ali, nem tão escuro que não se possa ver, nem tão claro que atrapalhe o desenrolar da trama.

Tem-se a impressão de se estar em um dos grandes galpões onde eram apresentadas as encenações há 500 anos. É quase possível ver William Shakespeare espreitando nos cantos escuros.

Em um tempo de peças-show, com muitos efeitos, cenários elaborados, luzes e sons mirabolantes, Macbeth é teatro. Puro, legítimo, visceral. Os atores dispõe de pouco além do próprio talento para dar vida a seus personagens: e isso os deixa expostos. E para isso era preciso que fosse escolhido um ótimo elenco. Daniel Dantas e Renata Sorrah dividem a cena com mais 10 atores, na maioria homens {apenas uma mulher além de Renata}, que se desdobram entre outros tantos personagens. O cenário de Fernando Mello da Costa  é simples: quatro grandes mesas  {pedaços de tablados} rústicas, cadeiras e panos que marcam as mudanças de ambientes, e cortinas em cor neutra. A simplicidade objetiva também se reflete na iluminação de Luiz Paulo Nenen e na representação sonora de Tato Taborda. O figurino de Marcelo Pies chama a atenção. Nada de sandálias medievais. A maioria dos personagens usa calças e botas, e sobreposições nas cores preto, cáqui e cinza. O rei, inicialmente vestido com terno e faixa, morre e o ator volta como um cavaleiro, trocando apenas o terno e a faixa por uma capa. Tudo simples, rude, puro.

Esses ingredientes formam a clima perfeito para a explosão de talento. Daniel Dantas, produtor do espetáculo em parceria com Maria Siman, transborda como o guerreiro que usa de todos os meios para conquistar e manter sua coroa. Renata Sorrah é deliciosamente intensa e quase louca como Lady Macbeth, a esposa e mentora da maioria dos crimes do protagonista. Movidos pela ambição, Macbeth e sua Lady são capazes de tudo. Movidos pelo talento e a paixão pelo teatro, Daniel Dantas e Renata Sorrah também o são.

É admirável também não apenas o talento dos demais atores {que contém rostos conhecidos do grande público, como Miguel Thiré, Camilo Bevilaqua e Felipe Martins}, mas a habilidade e agilidade como se movimentam. Com um simples mudar de posição de cadeiras, somos transportados da floresta para o castelo, e daí para uma casa mais afastada. Fica fácil para o expectador distinguir os supostos cenários, e é um delicioso exercício de imaginação ouvir os cavalos rápidos enquanto só se vê e ouve realmente atores andando por cima das grandes mesas. Desafiador.

Em tudo, porém, vê-se um grande homem: o diretor. Macbeth transpira um trabalho de direção primoroso, ágil e intenso. Trabalho de quem precisa conhecer Shakespeare a fundo. E ninguém melhor do que Aderbal Freire-Filho para tal tarefa. Pouco tempo depois de Hamlet {estrelado por Wagner Moura}, Aderbal nos traz Macbeth. Nos transporta a um galpão de 500 anos atrás. Nos torna cúmplices de uma produção transformadora.

Mais do que entretenimento, Macbeth é uma experiência impactante através do Teatro.


Serviço:
A temporada carioca, infelizmente, acaba neste domingo, mas ainda dá tempo de viver Macbeth

Local: Espaço Tom Jobim – Jardim Botânico
Endereço: Rua Jardim Botânico , 1008 - Jardim Botânico / RJ.
Tel: 21 2274 7012
Horários: sexta e sábado às 20h30 e domingo às 20h
Duração: 2h15 (com 15 min. intervalo)
Ingressos: R$60,00 e R$30,00 (meia entrada)
Vendas antecipadas pelo site www.ingresso.com
Classificação Etária: 14 anos.

fotos: Chico Lima - divulgação JS Pontes Comunicação.




ps. Hoje, dia 27 de março, é o Dia Internacional do Teatro. Parabéns a todos que se dispõe em Fantasias para fazer o mundo de cada um de nós melhor - nem que seja pelo inestimável tempo entre o abrir da cortina e os aplausos. Viva o Teatro!

Até a próxima,

Lathife Cordeiro
@VisaoArte

No Teatro: Restos

A história da peça Restos poderia ser clichê: um homem fala de sua mulher no dia do velório desta.
Só que quando se tem em cena Antonio Fagundes, a excelência toma conta de todos os espaços, e o lugar-comum abre alas para surpresas que podem vir de cada grão de areia {que cai de um dos cantos do cenário} ou de cada segundo de silêncio {três minutos surpreendentes}.

Ed é um homem apaixonado, que vê a vida se esvaindo pelo câncer que acaba de levar Jo, a mulher amada. Como foi amada aquela mulher! Que amor resplandecente nas expressões de alegria das lembranças e dor da perda! Ed torna a plateia confidente, quando, em uma sala paralela ao velório, fala sobre Jo: como se conheceram, as relações amorosas que os dois tiveram antes, os filhos, a vida social. Ed reluz. Antonio Fagundes reluz.

O câncer é assunto: culpa do vício, o cigarro, que não contente em levá-lo, toma-a dele oito meses antes. Sua morte está premeditada, os médicos avisaram: faltam oito meses. Mas ela foi antes, vítima da fumaça que o amado exalava... Maldito vício. Mas vício é vício, não é?! Com efeito.

Com efeito Restos é uma das melhores peças da temporada. Sem dúvida a mais elegante.Nos traz um Antonio Fagundes maduro, tão competente, tão talentoso, tão possível! Ele chora e ri. Mas não apenas chora e ri com a técnica dos atores: ele vive cada uma daquelas palavras. Interpreta com maestria o texto do americano Neil LaBute, traduzido por Clarisse Abujamra. O cenário de André Cortez e o figurino de Ricardo Almeida são o complemento para a solidão que grita e se despedaça naquele homem. Vestido em um elegantíssimo terno completo, ele tem os pés descalços. Por que?

Esse e outros "porquês" nos são respondidos depois do espetáculo quando Antonio Fagundes volta ao palco, desta vez com as próprias roupas, cortinas fechadas e sentado em uma cadeira branca, para conversar com a platéia. A interação torna-se completa. "Porquês" se multiplicam. Percebemos então quão além do óbvio vai a grandiosidade do texto de Neil LaBute, da direção de Marcio Aurélio, e principalmente, da interpretação de Antonio Fagundes.

O principal "por que" é segredo total, restrito apenas aos que assistiram ao espetáculo. O texto conta com o chamado "golpe de teatro", uma surpresa que surge nos últimos cinco minutos e faz a platéia repensar tudo o que já viu.

Eu assisti. Eu sei. Eu me surpreendi. O que é?

Vá ao Teatro dos Quatro e descubra. Mas vá logo, porque a temporada de Restos acaba neste fim-de-semana. Para os que gostam de teatro. Para os amantes da Arte.

Serviço:
Teatro dos Quatro
Rua Marquês de São Vicente 52, 2º andar, Shopping da Gávea.
Telefone: {21} 2274-9895.
Qui a sáb, às 21h30. Dom, às 20h. R$ 70,00 (qui e sex) e R$ 80,00 (sáb e dom).
Classificação etária: 12 anos.
Duração: 70 minutos.
Capacidade: 420 lugares.
Até 28 de março.
E aviso importantíssimo: seja pontual.

fotos: divulgação Barata Comunicação.


Até a próxima,

Lathife Cordeiro
@VisaoArte

No Teatro: As Traças da Paixão

O cenário inicial lembra um botequim do velho oeste americano: poeira, cores sujas, garrafas velhas, e uma mulher-macho-sim-senhor são as primeiras impressões de As Traças da Paixão. Completando a cena, um homem que traz em uma mochila uma vida, chega de viagem atrás de sua história, e traz a poeira na roupa e na alma.

Assim Lucélia Santos e Maurício Machado contam o texto escrito em 1994 por Alcides Nogueira nesse ambiente rústico, com uma sujeira externa que é o reflexo tocável da bagunça interna dos personagens, da falta de cores interna que não pode criar o colorido externo. A secura da alma e da vida.

Alcides Nogueira, conhecido pelo grande público por seus trabalhos na TV {como Ciranda de Pedra - Globo, 2008}, desafia atores e público com um texto sem meias palavras, sem pudores, no qual as verdades e mentiras do ser humano são questionadas, gritadas, e mesmo assim, um tanto escondidas sob a poeira de suas almas.

Lucélia Santos e Maurício Machado dão voz aos gritos, fazem de Marivalda e Paco personagens quase caricatos, em uma interpretação que exclui a leveza para valorizar o lado duro do ser humano: a vida dura, e a forma dura de pedir amor e de amar.

O expectador se vê jogado naquela sujeira de dúvidas, da crueldade, do cru, do sem meio-termos. Como se ele sentasse em uma daquelas mesas quebradas do bar e assistisse a um duelo sem armas. Os cenários mudam, o duelo continua, e o público continua duvidando e criando suas próprias certezas em meio à bagunça dos personagens. Entre os absurdos, a citação da princesa Anastácia, {herdeira dos czares russos)  e referências teatrais  de nomes como Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, Tchekhov, e Sófocles.

Sob a direção de Marco Antonio Braz, Lucélia Santos exagera na caricatura da interpretação, mas gera admiração por sua formidável forma física. Já Maurício Machado {no ar em Cama de Gato} protagoniza as melhores tiradas do espetáculo.

As Traças da Paixão está em seu último fim-de-semana, sob o teto iluminado do belíssimo Teatro Poeira, em Botafogo, Rio de Janeiro.

Serviço:
Local: Teatro Poeira (Rua São João Batista, 104 - Botafogo)
Informações: (21) 2537- 8053
Bilheteria: 2° a 4° das 15 às 20h/ 5° a sábado das 15 às 21h e Domingo das 15h às 20h
Horário: Quinta, Sexta e Sábado às 21h/ Domingo às 19h
Ingressos: Quinta, Sexta e Domingo R$40,00 / Sábado R$50,00
Classificação indicativa: 14 anos

foto: divulgação Daniella Cavalcanti Assessoria de Imprensa.

Até a próxima,
Lathife Cordeiro
@VisaoArte