No Teatro: Macbeth

Uma peça de Shakespeare já traz em si uma enorme expectativa. Se é dirigida por Aderbal Freire-Filho, isso aumenta. Se protagonizada por Daniel Dantas e Renata Sorrah, multiplica-se. Mas toda essa expectativa parece pequena diante da grandiosidade que vemos em cena na montagem atual de Macbeth.

A atmosfera é diferente. A começar pelo local: o Espaço Tom Jobim, localizado dentro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O teatro tem uma disposição de palco e cadeiras incomum, que permite que os atores fiquem no centro, entre duas grandes "redes" de pessoas. Sem a tradicional cortina vermelha separando plateia de atores, o público se sente parte do que acontece ali, vendo os atores mudarem de personagens com apenas uma troca de capa, e os outros que saíram de cena assistindo: isso nos cantos da área de encenação, ali, nem tão escuro que não se possa ver, nem tão claro que atrapalhe o desenrolar da trama.

Tem-se a impressão de se estar em um dos grandes galpões onde eram apresentadas as encenações há 500 anos. É quase possível ver William Shakespeare espreitando nos cantos escuros.

Em um tempo de peças-show, com muitos efeitos, cenários elaborados, luzes e sons mirabolantes, Macbeth é teatro. Puro, legítimo, visceral. Os atores dispõe de pouco além do próprio talento para dar vida a seus personagens: e isso os deixa expostos. E para isso era preciso que fosse escolhido um ótimo elenco. Daniel Dantas e Renata Sorrah dividem a cena com mais 10 atores, na maioria homens {apenas uma mulher além de Renata}, que se desdobram entre outros tantos personagens. O cenário de Fernando Mello da Costa  é simples: quatro grandes mesas  {pedaços de tablados} rústicas, cadeiras e panos que marcam as mudanças de ambientes, e cortinas em cor neutra. A simplicidade objetiva também se reflete na iluminação de Luiz Paulo Nenen e na representação sonora de Tato Taborda. O figurino de Marcelo Pies chama a atenção. Nada de sandálias medievais. A maioria dos personagens usa calças e botas, e sobreposições nas cores preto, cáqui e cinza. O rei, inicialmente vestido com terno e faixa, morre e o ator volta como um cavaleiro, trocando apenas o terno e a faixa por uma capa. Tudo simples, rude, puro.

Esses ingredientes formam a clima perfeito para a explosão de talento. Daniel Dantas, produtor do espetáculo em parceria com Maria Siman, transborda como o guerreiro que usa de todos os meios para conquistar e manter sua coroa. Renata Sorrah é deliciosamente intensa e quase louca como Lady Macbeth, a esposa e mentora da maioria dos crimes do protagonista. Movidos pela ambição, Macbeth e sua Lady são capazes de tudo. Movidos pelo talento e a paixão pelo teatro, Daniel Dantas e Renata Sorrah também o são.

É admirável também não apenas o talento dos demais atores {que contém rostos conhecidos do grande público, como Miguel Thiré, Camilo Bevilaqua e Felipe Martins}, mas a habilidade e agilidade como se movimentam. Com um simples mudar de posição de cadeiras, somos transportados da floresta para o castelo, e daí para uma casa mais afastada. Fica fácil para o expectador distinguir os supostos cenários, e é um delicioso exercício de imaginação ouvir os cavalos rápidos enquanto só se vê e ouve realmente atores andando por cima das grandes mesas. Desafiador.

Em tudo, porém, vê-se um grande homem: o diretor. Macbeth transpira um trabalho de direção primoroso, ágil e intenso. Trabalho de quem precisa conhecer Shakespeare a fundo. E ninguém melhor do que Aderbal Freire-Filho para tal tarefa. Pouco tempo depois de Hamlet {estrelado por Wagner Moura}, Aderbal nos traz Macbeth. Nos transporta a um galpão de 500 anos atrás. Nos torna cúmplices de uma produção transformadora.

Mais do que entretenimento, Macbeth é uma experiência impactante através do Teatro.


Serviço:
A temporada carioca, infelizmente, acaba neste domingo, mas ainda dá tempo de viver Macbeth

Local: Espaço Tom Jobim – Jardim Botânico
Endereço: Rua Jardim Botânico , 1008 - Jardim Botânico / RJ.
Tel: 21 2274 7012
Horários: sexta e sábado às 20h30 e domingo às 20h
Duração: 2h15 (com 15 min. intervalo)
Ingressos: R$60,00 e R$30,00 (meia entrada)
Vendas antecipadas pelo site www.ingresso.com
Classificação Etária: 14 anos.

fotos: Chico Lima - divulgação JS Pontes Comunicação.




ps. Hoje, dia 27 de março, é o Dia Internacional do Teatro. Parabéns a todos que se dispõe em Fantasias para fazer o mundo de cada um de nós melhor - nem que seja pelo inestimável tempo entre o abrir da cortina e os aplausos. Viva o Teatro!

Até a próxima,

Lathife Cordeiro
@VisaoArte

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