"Ler ou não ler, eis a questão". Muitas obras nos deixam nessa dúvida. E "A Outra Vida de Catherine M" me trouxe essa interrogação. Mesmo tendo ido à última FLIP, na qual eu estava, Catherine Millet não me despertou tanto interesse. Sua obra chegou às minhas mãos no final de dezembro do ano passado, um presente bonito enviado pela editora Ediouro através da querida Raquel Arellano {do blog maionese}.Leitura indicada, leitura feita. O principal estímulo era a própria Catherine Millet, e o que alguém com esse currículo, com essa história nas artes teria para dizer, e principalmente, como ela o diria. E nisso a satisfação foi certa. Entre sentimentos e delírios, Catherine nos dá detalhes de seu trabalho, de viagens, e de seu processo de trabalho como crítica de arte: "Não faço parte dos críticos perscritivos, aqueles que se colocam no mesmo nível dos artistas, intervindo no seu processo de criação através de conselhos sobre sua obra, às vezes até sobre sua vida". Catherine escreve de forma leve, e nos leva pelas mãos ao seu interior. Em "A outra vida...", a vida sexual propriamente da escritora serve como pano de fundo para o assunto principal: uma crise de ciúmes inesperada. Catherine se vê perdida quando descobre outras mulheres na vida de Jacques, seu segundo companheiro. Totalmente longe do perfil "casamento-padrão" que inclui fidelidade, o relacionamento dos dois era de total liberdade. A crítica, por exemplo, afirma que nunca deixou de frequentar orgias e de ter diversos casos. O ciúme surge então como um vilão, que rouba a paz de Catherine e pertuba a vida de Jacques. A história chega a tal ponto que a mulher volta a procurar seu antigo terapeuta, e escreve: "... era inacreditável que eu, o protótipo da sexualidade livre, voltasse a procurá-lo por causa de uma história ridícula de comédia teatral". Ao longo de 197 páginas, Catherine Millet desnuda mais do que o corpo de Catherine M: desnuda suas emoções, inseguranças, e a luta para viver de forma não-convencional, mesmo invadida por um dos mais humanos dos sentimentos. "Eu estava começando a conhecer esse sofrimento, nascendo das dúvidas que temos sobre a pessoa que se tornou o centro das nossas preocupações, que se alimenta, como sabemos, das fabulações com as quais preenchemos as aparentes lacunas da vida, mas também, por outro lado, da expectativa nunca satisfeita na qual estamos mergulhados e que paralisa todas as faculdades de raciocínio, sejam elas delirantes ou não. Sofremos por causa da nossa imaginação, e às vezes sofremos ainda mais pela nossa falta de imaginação". Saiba mais sobre "A outra vida de Catherine M" acessando aqui. Lathife Cordeiro /LathifeCordeiro
Nunca pensei em ler as aventuras sexuais da crítica de arte que escandalizou e tornou-se ainda mais admirada ao se despir através das palavras. O processo começou com o livro anterior, "A vida sexual de Catherine M".
..:: "A outra vida de Catherine M"
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